O velo é o conjunto da lã que cobre o corpo do ovino, no todo ou em parte. Dá-se a mesma designação à totalidade da lã que se obtém da tosquia de cada animal. Nos ovinos de certas raças, o velo cobre o corpo desde o focinho até às unhas, ao contrário do que acontece com os de outras raças que não têm lã na barriga, na cabeça e noutras regiões do corpo.
Classificação dos velos
Nos vários países produtores, a classificação dos velos pode ser feita pelo próprio produtor ou pelo agente de vendas. A classificação tem importância evidente na valorização dos velos, que são estendidos sobre uma mesa de classificação e apreciados de acordo coma finura aparente da lã, seu comprimento, rendimento presumível, ondulação, toque, cor e aspecto geral do velo. Como a lã das diferentes partes do velo não tem toda o mesmo valor, é costume fazer-se, nas fábricas, a seguinte separação que corresponde às regiões do corpo do ovino: 1º – Lã da espádua; 2º – Lã dos costados, flancos e braços; 3º- Lã do dorso e barrigas; 4º – Lã da cernelha, pescoço e coxas; 5º – Lã das abas da barriga, da cabeça, da barbela, dos cabos e do rabo.
Características mais importantes do velo:
Homogeneidade ou uniformidade: um velo homogéneo ou uniforme tem a lã das suas várias regiões bastante igual. Por conseguinte, é tanto mais homogéneo quanto menor é a diferença de finura e de comprimento entre as fibras da sua lã. Os ovinos das raças mais apuradas são os que têm velos de lã mais igual.
Densidade ou tochado: um velo é tanto mais tochado ou apertado quanto mais fibras tem por centímetro quadrado. O tochado aprecia-se pela dificuldade de penetrar a mão no velo e de comprimir as suas madeixas.
Rendimento em lavado: É a relação entre o peso de uma lã em sujo e o peso da mesma lã depois de lavada e limpa. Se uma arroba (15 quilos) de lã em sujo der em lavado sete quilos e meio, perdeu metade do peso, e portanto teve de rendimento a outra metade, ou seja, os outros sete quilos e meio. A quebra de peso que a lã tem na passagem de sujo para lavado não é sempre a mesma. Essa quebra é tanto maior quanto mais suarda, terra, pó, areia, esterco, palhas, cardos, água e outras impurezas tiver a lã.
Tosquia da lã: A tosquia consiste em cortar rente à pele a lã dos animais. É um trabalho de grande importância pois, se é bem feito, contribui muito para a valorização de lã, mas, se é mal feito, pode estragar um produto que demorou um ano a criar. A época do ano em que tem lugar a tosquia varia com as condições climatéricas, pois não convém descobrir o animal cedo de mais nem deixá-lo suportar o calor com o peso do velo. Em Portugal, decorre nos meses de Abril e Maio, estendendo-se para mais tarde, princípios de Junho, nas Beiras e Terra Fria (Trás-os-Montes). A operação de tosquia é feita por homens muito experientes denominados tosquiadores. A tosquia deve fazer-se em recintos apropriados que possuam mesas desbordadoras, depósitos para os velos e prensas de enfardamento. Há tesouras de tosquia manuais e tosquiadeiras mecânicas de comando manual e elétrico. Para se efetuar a tosquia, os animais devem ser abrigados da chuva desde a véspera, porque a tosquia com a lã molhada é difícil de executar. O tosquiador deve ainda separar antes do início da tosquia, as marcas de tinta que é costume aplicar nas ovelhas a fim de as identificar. Tira-se numa só peça o velo e seguidamente tiram-se todas as outras partes que não devem ficar junto do velo, ou seja: a cabeça, a barriga, a cauda e madeixas queimadas pela urina.
A lã e suas principais características:
A lã é a fibra animal que constitui a cobertura protetora externa dos ovinos. Assim, a lã ajuda a conservar a temperatura do corpo e, juntamente com o ar que está entre assuas fibras não deixa arrefecer a pele. A fibra lanar é formada de raiz e haste ou coluna. A raiz é a parte encravada na pele (folículo piloso). A haste é a parte que cresce acima da pele. É arredondada e termina em ponta na lã da primeira tosquia (lã de borrego), mas é romba na lã das tosquias seguintes. A haste não é lisa, mas sim ligeiramente rugosa, porque é revestida de escamas dispostas como as telhas de um telhado. Do lado de dentro, a haste é oca e percorrida pelo canal medular, que pode estar cheio de ar ou de uma substância de cor escura que se chama medula. A fibra de lã é envolvida por uma substância chamada suarda, que lhe dá macieza e a protege contra a chuva, o vento, a terra e o atrito. Na pele, onde cresce a fibra da lã, há uns pequenos buracos chamados poros por onde saem o sugo ou suor, produzido pelas glândulas sudoríferas, e a gordura da lã, produzida pelas glândulas sebáceas. O sugo e a gordura, juntos, formam a suarda. Na zona da raiz, as células são moles e só junto da pele se dá a oxidação e endurecimento pelo fenómeno da ceratinização, que torna as células duras e resistentes.
Componentes fundamentais da fibra de lã:
Morfologia: A fibra de lã consta de três partes perfeitamente diferenciadas, com distintas propriedades: a)- Cutícula b)- Cortex c)- Medula
A cutícula está formada pelas escamas características que envolvem a fibra e estão dispostas como as escamas de um peixe ou as telhas de um telhado. A cutícula protege a fibra dos agentes exteriores e a sua parte externa ou epicutícula é muito resistente ao ataque químico. O Córtex é a parte principal da fibra de lã, ocupando aproximadamente, 90% do total da mesma e dele dependem a maioria das suas propriedades: resistência, elasticidade, propriedades tintoriais, etc. A medula é um canal central que se apresenta em certos tipos de lãs e está formada por células medulares de diferente natureza que as do cortex, apresentando-se em geral em lãs médias ou grossas. A presença das fibras meduladas numa lã cria problemas de tingimento.
Finura: É a espessura da fibra da lã. O fio fabricado de qualquer quantidade de lã tem tantos mais metros quanto mais fina for a lã. Por isso, a lã fina é de maior valor. A determinação do diâmetro médio das fibras pode fazer-se pelo microscópio ou pelo Air-Flow. O diâmetro das fibras de lã varia grandemente, até dentro do mesmo velo. Estas variações são causadas em parte pelas alterações fisiológicas nos animais devido à nutrição, gestação ou doenças. O comportamento técnico da fibra depende grandemente da sua finura. Com efeito, o título do fio, que se pretende obter depende da finura das fibras que lhe dão origem. O diâmetro da fibra de lã expressa-se em micrómetros ou mícrons.
Comprimento: Na fibra de lã temos de considerar o comprimento aparente ou seja, o comprimento em perda do seu ondulado natural e o comprimento real, isto é, depois da fibra esticada. Ao falarmos no comprimento de uma lã referimo-nos sempre ao real. Para uma lã em rama é sempre muito difícil achar o seu verdadeiro comprimento. O aparelho de Baer pode dar-nos o diagrama de uma lã penteada. O comprimento das fibras de lã e a sua finura estão na razão direta, de um modo geral o maior comprimento corresponde ao maior diâmetro. Quanto mais fina for a fibra em igualdade de comprimentos, maior é o seu valor têxtil. O apreço em que se têm certas lãs merinas (australianas em especial), deve-se a dizerem-lhes respeito além de boas características de uniformidade, cor e rendimento, elevados comprimentos. É costume classificar as lãs, em lãs para carda quando o seu comprimento vai até cerca de 4 cm, e lãs para pentear quando o seu comprimento está compreendido entre 4 e 60 cm.
Cor e brilho: A cor da fibra de lã pode variar do branco quase puro até ao amarelo, mas o mais frequente é que se apresente num tom marfim após a sua limpeza. Antes do seu processo industrial, algumas lãs devem branquear-se por processos químicos enquanto outras primitivamente brancas ou quase brancas, devido a alterações sofridas durante a armazenagem ou processo de fabricação, requerem o branqueamento no decurso do processo de fabrico. Em geral, o amarelecimento da lã é indício da degradação da mesma, pelo que se devem tomar todas as precauções possíveis para evitar este defeito sob pena de se desvalorizar a matéria-prima. Assim, a armazenagem de lãs prensadas e em sujo, devido à alcalinidade presente, pode originar o aumento da cor amarela, com a consequente degradação e perda de resistência, tacto, afinidade tintorial, etc. A fibra de lã é mais ou menos brilhante segundo a estrutura escamosa externa. Poderemos dizer que as lãs finas e muito frisadas serão pouco brilhantes enquanto que as grossas pouco frisadas e com escamas aplanadas serão muito mais brilhantes.
Caráter Anfotérico da lã: Em química, designa-se por substâncias anfotéricas aquelas que podem comportar-se como ácidos ou como bases segundo as condições em que se tratam. A fibra de lã pode ter grupos ácidos (COOH) e também grupos básicos (NH2) na sua molécula. Poderá comportar-se como ácido se a pusermos em condições em que fiquem bloqueados e incapazes de reagir os grupos de caráter básico. Pelo contrário, se conseguirmos inibir a ação dos ácidos, deixaremos livres os grupos básicos para atuarem como bases.
Frisado (ondulação): As fibras de lã apresentam uma certa ondulação natural que varia com as raças do animal, com o habitat, etc…A qualidade de uma lã está relacionada com a respectiva ondulação. Em geral, as lãs mais finas são as mais onduladas. A regularidade do número de ondulações por cm implica regularidade no crescimento da fibra. As lãs merinas são mais frisadas do que as lãs cruzadas. O ondulado da fibra contribui para o seu toque “cheio” e para o seu comportamento na transformação fabril, daí que, na fabricação das fibras sintéticas é hábito imprimir-se-lhes um certo frisado a fim de imitar o ondulado natural da fibra de lã.
Resistência à rotura: A fibra de lã possui uma resistência não muito elevada. Contudo é suficiente para as aplicações a que se destina compensando este valor não muito elevado com uma preciosa propriedade que é a sua elasticidade.
Elasticidade: Dizemos que um corpo é elástico quando tem a capacidade de voltar ao comprimento inicial após ser estirado; não devemos confundir esta propriedade com a que possibilita que um corpo possa estirar-se sem se romper. A capacidade de extensão que possui a fibra de lã ao ser submetida a uma carga e a sua aptidão para recuperar o estado inicial uma vez que cesse a carga, é de grande interesse uma vez que ao longo do seu processo de fabricação está submetida a fortes tracções que envolve numa determinada estiragem quer esteja na forma de mecha, fibra ou fio. Se possuísse esta propriedade de recuperação tais operações tornar-se-iam difíceis e os seus resultados tornar-se-iam inadequados. As propriedades elásticas dos tecidos não são mais que a tradução das fibras que os compõem.
Feltragem: Quando a lã forma um conjunto compacto com as fibras aderidas entre si, originando um todo fechado, embora poroso, em que as fibras se agrupam de uma forma consolidada umas contra as outras, dizemos que a lã feltrou. A Feltragem é uma característica típica e única da lã, visto que só esta fibra a possui naturalmente. A feltragem é uma forma de encolhimento irreversível, isto é, que não pode ser recuperado por esticamento. A feltragem é uma propriedade importante para a fabricação de feltros de lã, de flanelas de lã, e usada sob controlo é indispensável como elemento de ligação no acabamento dos tecidos de lã. A operação de acabamento chama-se “batanagem”, pois é feita em máquinas de rolos chamados “batanos”, onde o controlo dos encolhimentos pode ser feito com bastante rigor.
Feltragem/Batanagem: Para realizar a batanagem são indispensáveis três fatores :
-Calor;
-Umidade;
-Compressão
Para obter o emaranhamento é necessário calor, o qual se produz por fricção entre o tecido e os órgãos da máquina ou então, se necessário, pode aquecer-se com vapor indireto. A temperatura ótima para a feltragem é de 40 a 45ºC e a umidade do tecido deve situar-se entre 80 a 100% relativamente à massa seca do material. A velocidade de batanagem pode ser alterada por um excesso ou defeito de umidade podendo, contudo, dar lugar a defeitos. A compressão exerce a sua influência, pois que quanto mais elevada maior será a velocidade de batanagem. Além destes fatores imprescindíveis na feltragem, existem outros que condicionam o processo e que são o pH do banho, produtos utilizados, máquina, tipo de lã, características de construção dos fios e tecidos, operações a que o tecido fora previamente submetido, etc.
Recuperação de humidade: A lã é a fibra mais higroscópica que se conhece, podendo absorver maior quantidade de água que as restantes fibras naturais e artificiais. As características higroscópicas da lã contribuem para a sua excelência como fibra de artigos de vestuário e para o seu comportamento na técnica da transformação.
Propriedades elétricas: A lã é má condutora da eletricidade e portanto carrega-se de cargas elétricas durante o seu processamento. Contudo, é possível torná-la mais ou menos boa condutora, por aumento da humidade do ambiente, visto ser uma fibra higroscópica.
Condutividade térmica: A lã ao absorver humidade liberta calor. Assim, quando uma pessoa veste um artigo de lã, ao passar de um ambiente quente e seco para outro frio e húmido, o calor libertado pela lã impede uma transição brusca. Por outro lado, os artigos de lã não aderem ao corpo, como as outras fibras humedecidas pela transpiração. São estas qualidades e outras que fazem com que a lã seja considerada de alta qualidade como artigo de vestuário.
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